•     Durante a minha gravidez, sobretudo no final, quando as dores nas costas tornavam impossível calçar os meus queridos saltos altos, a coisa de que tinha mais saudades era do meu guarda-roupa fashion. A saia comprida de cintura subida, os vestidos justinhos, os tecidos sedosos. Pensava eu, na minha ingenuidade de mãe de primeira viagem, que assim que recuperasse a forma poderia voltar a usar tudo como antes. Pois não podia estar mais enganada.
        Não é "apenas" uma questão de recuperar a silhueta. É todo um novo estilo de vida. Não que as mães tenham de se vestir de mães. Só que, de repente, a escolha da fatiota do dia está condicionada por diversos factores que antes nos passavam ao lado.
    1) andar com um bebé ao colo não se coaduna com saltos de 10cm. Sobretudo na calçada portuguesa. Por isso, temos duas hipóteses: ou andamos de saltos mais baixos ou não tiramos o bebé do carrinho (a minha opção preferida). Aliás, o carrinho até ajuda na árdua tarefa de calcorrear as ruas das nossas cidades.
    2) unhas pintadas só se for de cor neutra. É que entre as inúmeras lavagens de biberões, banhos, mudas de fraldas e desapertar minúsculos botões e molinhas das roupas do bebé, acreditem que o Rouge Noir fica desfeito em dois dias. Assim, a minha opção é manter as unhas das mãos bonitas mas com verniz transparente e aproveitar a cor para as unhas dos pés.
    3) Há peças que devem ficar longe das crianças. Baba, leite, papa, fruta, bolsado, são apenas alguns dos fluidos que podem destruir uma camisa de seda ou um vestido de cetim. E acreditem que, por mais aventais que ponham, o vosso pequenino ser vai encontrar maneira de vos sujar. A maioria das vezes de forma tão amorosa que a dor de ver aquela peça arruinada é atenuada. Naquele momento. Depois, quando estamos a tentar adormecer, volta para nos assombrar. O que fazer? Antes de vestir seja o que for pergunto-me "ficarei muito triste se esta peça se estragar?". Se a resposta for sim, a peça volta para o armário à espera de um jantar só de adultos.
    4) Brincos e acessórios são brinquedos muito divertidos. E perigosos. Se por um lado, dão jeito para entreter o bebé na origem de uma birra no meio do restaurante, também podem dar uma enorme dor de cabeça, quando ele rebenta o colar e começa a colocar as pecinhas na boca ou quando nos rasga um lóbulo com um puxão no brinco. Alternativa? Brincos de mola, peças que não se partam, investir em cintos e carteiras em vez de pulseiras e colares.

        Resumindo, não é preciso renunciar às últimas tendências. Apenas readaptar o nosso estilo e lembrarmo-nos que agora já não estamos sozinhas. E ainda bem.






  •      Amanhã é a última vez que poderemos gozar o feriado de Nª.Srª. da Assunção. Segundo os peritos, os senhores que tudo sabem e que trouxeram, ao longo de 20 anos, o nosso país ao estado em que está, a redução do número de feriados serve para aumentar a produtividade.
         Pode ter o seu quê de verdade, num país em que toda a gente faz pontes ou junta dois dias de férias ao feriado para ficar com quase uma semana inteira de descanso. Mas o 15 de Agosto? Que diferença é que vai fazer quando 90% da população está de férias de qualquer maneira. Ou será que ninguém reparou que o país pára nas primeiras semanas de Agosto? Restaurantes, mercearias, escolas, creches, até há empesas do sector privado que incentivam os trabalhadores a tirar férias neste mês, porque pouco há para fazer.
         Isto é o que se chama uma medida para inglês (ou neste caso, alemão) ver. Seriam mais honesto se acabassem com o 25 de Abril, cujos princípios e valores estão a ser cada vez mais ignorados.




  •    Num país em que só se fala de futebol, de repente, durante as olimpíadas, é só entendidos nas diversas modalidades. Cada atleta que é eliminado recebe comentários de desdém. Que é uma vergonha, que é para isto que serve o nosso dinheiro, que mais valia ter ficado em casa. Como se, lá por termos o melhor jogador de futebol do mundo, todos os atletas que vestem as cores nacionais tivessem a obrigação de disputar finais e trazer medalhas.
       Ora, será que essas mesmas pessoas sabem o que é preciso trabalhar para chegar sequer às olimpíadas? Será que sabem que ser apurado já é uma vitória, num país que nem os estádios de futebol enche, quando mais os recintos de outras modalidades? Ou que a maioria dos atletas olímpicos têm que ter um trabalho a tempo inteiro e só podem treinar nas suas horas livres?
       Os mesmos jornalistas que fazem capas com a nova contratação do Benfica no dia em que um atleta português ganha uma medalha num Europeu ou num Mundial da sua modalidade, por exemplo, deviam agora explicar aos tugas, porque é que ficar entre os 10 primeiros de uma competição disputada por atletas de todo o mundo é, literalmente, um feito olímpico.

       Parabéns a todos os que trabalharam para estar agora em Londres (e também aos que não puderam estar por lesões). Não liguem aos tugas. Somos mesmo assim.