Há casamentos, nascimentos e promoções. Há divórcios, lutos e desemprego. Tudo isto misturado, tudo isto a acontecer com a mesma pessoa, com a mesma família ou comunidade. E depois, há ainda as já clássicas reportagens sobre o melhor e o pior do ano, que só nos fazem sentir mais insignificantes perante os grandiosos acontecimentos. Qual foi a minha contribuição para a Humanidade? Como posso queixar-me seja do que for perante as imagens da Síria? Como posso vangloriar-me de pequenos feitos perante tudo o que fez Mandela?
Mas posso. Podemos todos. Porque somos humanos. Porque embora tenhamos a sorte de não ter nascido numa zona de guerra, também temos as nossas pequenas tragédias. Porque os nossos actos podem não mudar o mundo, mas mudam o mundo de alguém. Porque apesar de poucos ficarem na História, todos fazemos parte dela, com os nossos dias nada emocionantes, as nossas rotinas nada inspiradoras e os nossos desejos apenas mundanos. E se o melhor que fizemos no ano que acaba foi ajudar uma velhinha a atravessar a estrada, não nos sintamos menos dignos. Amanhã poderemos começar de novo. E depois de amanhã. E a qualquer momento da nossa vida.
Álvaro de Campos escreveu que «O mundo é para quem nasce para o conquistar e não para quem sonha que pode conquistá-lo, ainda que tenha razão.» Mas se não sonharmos, o que nos resta?
Vamos então sonhar um 2014 como nos apetecer, em que sejamos heróis para quem nos é querido, geniais numa actividade qualquer (mesmo que seja a resolver palavras cruzadas) ou em que sejamos apenas nós próprios, com todas as nossas falhas. Para uns, serão sonhos altruístas como a paz no mundo, a saúde eterna e a cura do cancro. Para outros, um carro novo, um amante ou uma mala Chanel. Não importa a dimensão ou a futilidade dos mesmos, porque enquanto pudermos mandar nos nossos sonhos seremos livres. Mesmo nos dias mais escuros. Mesmo num país pequenino.